quarta-feira, 28 de março de 2012

O homem cuja orelha cresceu

Estava escrevendo, sentiu a orelha pesada. Pensou que fosse cansaço, eram 11 da noite, estava fazendo hora extra. Escriturário de uma firma de tecidos, solteiro, 35 anos, ganhava pouco, reforçava com extras. Mas o peso foi aumentando e ele percebeu que as orelhas cresciam. Apavorado, passou a mão. Deviam ter uns dez centímetros. Eram moles, como de cachorro. Correu ao banheiro. As orelhas estavam na altura do ombro e continuavam crescendo. Ficou olhando. Elas cresciam chegavam à cintura. Finas, compridas, como fitas de carne, enrugadas. Procurou uma tesoura, ia cortar as orelhas, não importava que doesse. Mas não encontrou, as gavetas das moças estavam fechadas. O armário de material também. O melhor era correr para a pensão, se fechar, antes que não pudesse mais andar na rua. Se tivesse amigo ou uma namorada iria mostrar o que estava acontecendo. Mas o escriturário não conhecia ninguém, apenas colegas de escritório. Colégas, não amigos. Ele abriu a camisa e enfiou as orelhas para dentro. Enrolou uma toalha na cabeça como se estivesse machucado.
Quando chegou a pensão, a orelha saia pela perna da calça. O escriturário tirou a roupa. Deitou-se louco para dormir e esquecer. E se fosse ao médico?
Um otorrinolaringologista. A esta hora da noite? Olhava o forro branco. Incapaz de pensar, dormiu em desespero.
Ao acordar resolveu ir ao médico, pois havia amanhecido o dia.
Quando chegou ao consultório, disse ao médico tudo que se passava. A princípio , o médico olhou para ele e teve a impressão de que o rapaz estaria louco.
E foi exatamente o que o médico fez. Perguntou se o rapaz era louco, e o rapaz lhe pergunta porquê.
O doutor lhe fala que suas orelhas estavam em perfeito estado.
O homem saiu do médico furioso dizendo que gastou dinheiro à toa! Começa-se aí, uma história de terror. Só o homem via suas orelhas crescendo, mas para todos que ele perguntava, a orelha estava em tamanho normal. Mas com o passar do tempo, esse caso foi parar num psiquiatra.
O homem trabalhava muito, e ganhava pouco, e esse trabalho pesava mais a cada dia.
Ninguém via, mas para o homem, sua orelha media vinte metros. Todos viam o cansaço, mas não sua orelha.
Ele começou a ficar louco, e sem mais nem menos, pegou uma arma, colocou o cano na garganta, e atirou.

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